Emily Giffin: ‘As mulheres entendem mais de relacionamento’ - Jornal Correio MS

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04/09/2013

Emily Giffin: ‘As mulheres entendem mais de relacionamento’

Meire Kusumoto

Para a escritora americana Emily Giffin, que participou da Bienal do Livro no último sábado, o rótulo de “chick lit” (“literatura de meninas”) que seus livros recebem cairia por terra se fossem desconsideradas as suas capas e as ações de marketing feitas para promovê-los. As editoras, interessadas em pegar carona em casos de sucessos como Meg Cabot (O Diário da Princesa) e Marian Keyes (Melancia), embrulharam os títulos de Emily, nos Estados Unidos e em outros países onde foram lançados, com a mesma embalagem cor-de-rosa.

Emily Giffin prefere dizer que escreve não sobre mulheres e meninas, mas sobre relacionamentos. No entanto, como entende que as mulheres compreendem melhor esse campo do que os homens, inevitavelmente seus romances são narrados por um personagem feminino. “Em geral, prefiro livros com mais substância e gravidade, que não sejam tão leves e frívolos. Por isso, penso que meus livros não são chick lit, porque eles têm mais substância”, defende. “Meus livros falam sobre coisas importantes como casamento e a maternidade, não sobre fazer compras ou sair para beber em bares caros. Eles falam da vida, de relacionamentos e de problemas reais.” Além disso, diz, as mulheres que cria para as suas histórias são autênticas. “Acho que tenho uma conexão com as mulheres, crio empatia ao olhar sempre para os dois lados da história e perceber o que as pessoas estão pensando ou sentindo. Por isso acredito que consigo criar personagens autênticas.”

Emily, autora de seis romances que venderam 8 milhões de exemplares em todo o mundo – 350.000 no Brasil –, lançou no país, em agosto, Uma Prova de Amor (tradução de Maria Angela Amorim de Paschoal, Novo Conceito, 432 páginas, 29,90 reais). O livro fala de Claudia, uma mulher decidida a não ter filhos, ainda que isso resulte em olhares de reprovação de todos os que conhece. Para a escritora, de todas as liberdades conquistadas pelo sexo feminino nas últimas décadas, não está a de não ter filhos. “Ainda é um tabu. Mas, para mim, a decisão de não ser mãe não torna uma mulher egoísta. O que faz dela egoísta, isso sim, é ter um filho sem estar comprometida completamente com a ideia”, diz. ”Acho que muitas pessoas não pensam muito sobre o assunto e acabam cedendo porque é o esperado de todos. Muitas vezes elas refletem mais sobre comprar um cachorro do que sobre ter filhos.”

Confira abaixo a entrevista de Emily Giffin ao blog VEJA Meus Livros.

Você se formou em Direito, mas odiou a experiência. Você usa algo que aprendeu na faculdade em seus livros? Não uso muito meus conhecimentos em Direito, mas muitas das minhas experiências de vida e no trabalho foram resultado da minha passagem pela escola de Direito e da prática da profissão em Nova York. Me inspiro nas pessoas que conheci e nas experiências que tive para escrever. Um exemplo disso é Rachel, a personagem principal do meu primeiro livro, O Noivo da Minha Melhor Amiga (Editora Agir), que é uma advogada vivendo em Nova York.

Por que a sua escolha por falar principalmente sobre mulheres? Bom, eu escrevo sobre relacionamentos de todos os tipos, pais e filhas, mães e filhas, maridos e mulheres. Na verdade, tenho muitos personagens masculinos em meus livros, também. Mas eu acho que as mulheres conseguem focar mais em relacionamentos do que os homens. Por exemplo, se você reunir cinco casais, vai perceber que os homens em pouco tempo vão começar a falar de trabalho e esportes, enquanto as mulheres vão falar sobre relacionamentos. Como esse é o assunto dos meus livros, a tendência é que eu deixe no centro das histórias personagens femininos.
E por que a escolha por tratar de relacionamentos? É do que eu gosto, o que acho importante na vida. Todos temos nossas paixões, hobbies, atividades, coisas muito importantes, mas não como as nossas amizades e relacionamentos em geral.
Seus livros são classificados geralmente sob o termo chick lit, literatura leve para mulheres. você concorda com essa alcunha? Algumas vezes, eles são categorizados dessa forma, mas acredito que estejam mais perto de ficções sobre mulheres. Não entendo o que os transforma em chick lit. Se você retirar todas as ações de marketing e as capas dos livros, são apenas ficções sobre mulheres. Talvez os dois primeiros livros, O Noivo da Minha Melhor Amiga ePresentes da Vida (Novo Conceito), sejam chick lit, mas os últimos não são.
O que acha desse tipo de livro? Gosto de todos os tipos de ficção. Em geral, prefiro livros com mais substância e gravidade, que não sejam tão leves e frívolos. Por isso, penso que meus livros não são chick lit, porque eles têm mais substância e falam sobre coisas importantes como casamento e a maternidade, não sobre fazer compras ou sair para beber em bares caros. Eles falam da vida, de relacionamentos e de problemas reais.
Você já foi descrita como uma pessoa que entende de mulheres, por causa dos livros que escreveu. Existe uma maneira de “entender as mulheres”, em geral? Não é impossível entender todas as mulheres ou todos os homens ou todas as pessoas. Todos nós temos experiências e perspectivas diferentes e eu tento criar personagens realistas, que tomem atitudes coerentes com quem eu acredito que eles sejam como pessoas. Acho que tenho uma conexão com as mulheres, crio empatia ao olhar sempre para os dois lados da história e perceber o que as pessoas estão pensando ou sentindo. Por isso acredito que consigo capturar mulheres autênticas em minhas histórias. Mas obviamente não entendo todas as pessoas em todas as situações, apenas tento entender.
As mulheres conquistaram seu espaço, administrando carreira e família? Ou ainda há muito preconceito e desrespeito? Ainda há sexismo no mundo, assim como racismo e outros preconceitos, mas nós temos muita liberdade para fazer escolhas. Só acho que uma dessas escolhas ainda não é completamente permitida a mulheres, que é a de não ser mãe. Se elas decidem por isso, são julgadas, ainda é um tabu.
Foi por isso que você pensou em escrever Uma Prova de Amor, que conta a história de uma mulher que não quer ter filhos? Eu só tinha planejado conta a história de um casal que de repente tinha uma crise em seu relacionamento porque eles queriam coisas muito diferentes. Pensei em criar um personagem feminino que mudava de ideia e queria um filho, mas isso seria menos interessante, já que é a forma como sempre pensamos no assunto. Então decidi trocar e colocar uma mulher que não tinha certeza se queria ser mãe. Eu sempre quis ser mãe, tenho três filhos. Quando escrevi Uma Prova de Amor já tinha os meus dois primeiros filhos, gêmeos e pensei nos sacrifícios que tive de fazer para ter as crianças. Então foi fácil entender por que uma mulher não gostaria de se sacrificar tanto. A decisão de não ser mãe não torna uma mulher egoísta, mas sim ter um filho e não estar comprometida completamente com a ideia. Acho que muitas pessoas não pensam muito sobre o assunto e acabam cedendo porque é o esperado de todos. Muitas vezes elas refletem mais sobre comprar um cachorro do que sobre ter filhos.
Ser mãe mudou a forma como você vê a vida? Ter filhos muda sua perspectiva sobre tudo. Até você ter filhos, você é capaz de pensar em você mesma, em primeiro lugar. Claro que você se preocupa com amigos e família, mas é diferente.
Um gênero que chamou a atenção de muitas mulheres foi o da literatura erótica, em que se encaixa a trilogia Cinquenta Tons de Cinza e os livros de Sylvia Day. Você conhece esses livros? O que acha da maneira como eles retratam as mulheres? Não li, mas não porque estou julgando esse gênero ou seus escritores e sim porque há outras coisas que prefiro ler. Eu escrevo sobre mulheres que podem ser vulneráveis, mas também são muito fortes e fazem escolhas, que até podem ser ruins, mas elas ao menos estão no controle da situação. Prefiro livros que retratam pessoas que, mesmo que cometam erros, são os erros delas. Não conheço o suficiente desses livros para falar algo, mas se as pessoas estão lendo e gostando, é fantástico, acho ótimo que essas autoras encontraram sucesso comercial. Nem tudo o que você lê tem de ser sério, se é divertido e as pessoas gostam, ótimo. Só não é muito meu gosto.
Você tem algum novo projeto? Quatro livros provavelmente serão adaptados para o cinema. Estou terminando o sétimo livro, que deve ser lançado em maio do ano que vem nos Estados Unidos. Vou contar a história de uma garota que se apaixona pelo pai de sua melhor amiga, um técnico de futebol americano.
Como foi sua experiência anterior no Brasil? Estive no país em 2011, também para a Bienal do Livro do Rio. Amei a cidade, as pessoas. É um lugar muito vibrante, colorido, inspirador, intelectual. Amei os restaurantes, a comida é fabulosa.

Fonte: Veja