Fazenda 3R: Novo bezerro 2.0 é quase um boi gordo - Jornal Correio MS

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17/06/2014

Fazenda 3R: Novo bezerro 2.0 é quase um boi gordo

Pecuarista apelidado de o Rei dos Bezerros...

Fazenda 3R: Novo bezerro 2.0 é quase um boi gordo
Pecuarista apelidado de o Rei dos Bezerros cria nelores jovens com mais de 300 quilos e prova que pecuária tem muito chão pela frente. 

O pecuarista Rubens Catenacci não deixa dúvidas, nem para os estranhos, que se trata de um homem do campo. Está sempre com calça jeans e chapéu de palha clara na cabeça. Às vezes, pode ser visto até à mesa, no meio de uma refeição, com o inseparável chapéu. Homem franzino, magro e de baixa estatura, ele produz os maiores e mais gordos bezerros do Brasil. Nas feiras de gado e fazendas do Centro-Oeste, onde amealhou admiradores e é sempre recebido com apertos de mão e muita cordialidade, é chamado de o Rei dos Bezerros.


Os bezerros de Catenacci pesam sempre 300 quilos (kg) ou mais. Alguns já chegaram aos impensáveis 390 kg. Impensáveis porque esse peso coloca o bezerro próximo a um boi gordo, pronto para o abate, que m 450 kg. Seus animais também estão muito além da média nacional – pesam, no mínimo, 100 kg a mais. 

Isso acontece não porque a pecuária tenha parado no tempo. Pelo contrário. Desde a virada do século, o uso de novas tecnologias na alimentação e na genética, bem como os avanços na gestão das fazendas, promoveram uma revolução silenciosa na criação do nelore, a raça que representa 80% do rebanho brasileiro. De 2000 para cá, o peso médio do bezerro nelore puro, sem mistura de raças, foi de 168 para 190 quilos (kg).

Os dados são do Cepea, o centro de pesquisas econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). A instituição norteia os indicadores do bezerro para todo o País. Esses 22 kg a mais significaram um aumento de 13% na produtividade da pecuária de corte brasileira. “Foram os investimentos na qualidade do animal que fizeram o País avançar dessa maneira na última década”, diz Sergio Dezen, professor e pesquisador da Esalq/USP. 

“Imaginar que alguém foi muito além é impressionante.” De acordo com Luiz Claudio de Souza Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, Catenacci é um exemplo de profissionalismo. Numa analogia, ele fala que o fazendeiro mostrou, na prática, que é possível aperfeiçoar o modelo de bezerro que está aí: “É comum a gente ver animais maiores nas pistas de competição das feiras, mas eles são como os modelos da Fórmula 1 são únicos, estão acima da média e servem de base para a modernização dos modelos destinados a rodar na rua, na pecuária de corte”, diz Paranhos. “O Rubinho provou que podemos almejar um número maior de modelos 2.0 saídos de fábrica.”


Foi preciso tempo, paciência e tecnologia para chegar ao bezerro 2.0. “Não se faz milagre da noite para o dia”, diz Catenacci.

“Comecei em 1991 porque queria ser campeão nas feiras, mas depois percebi que poderia aplicar os métodos usados em um único animal para o rebanho.”

Pesos pesados. 

390 quilos - já chegaram a pesar alguns dos bezerros nelores da fazenda 3R, que tem um verdadeiro centro de produção de bezerro 2.0.

100 quilos - a mais do que a média nacional é quanto pesam os bezerros do fazendeiro Catenacci.

80% - do rebanho brasileiro é da raça nelore.

Linha de produção. A fazenda de Catenacci que opera como um verdadeiro centro de produção de bezerros é a 3R, em Figueirão, Mato Grosso Sul, Na pura experimentação da lida diária no campo, Catenacci desenvolveu um método particular de produção sustentado por três pilares. 

O primeiro deles é a genética. Seus bezerros de Catenacci têm como matriarca a vaca Badalada, uma das filha do lendário touro Fajard, um dos melhores reprodutores da história recente do País. Badalada chegou a ser eleita, em 1998, a terceira melhor vaca do Brasil. “Nelore bom é o que nasce do cruzamento de nelore bom”, é a máxima que Catenacci estabeleceu.

O segundo pilar é a forma de criação dos animais. A área de pasto onde os bezerros crescem foi organizada como uma grande pizza: há 12 “pedaços” e uma área circular no meio, chamada de praça de alimentação, Os “pedaços” e a praça são isolados por cercas. O pasto é cultivado e o capim sempre tenro. Assim, cada vez que o capim de um dos “pedaços” é consumido, os animais são transferidos para o “pedaço” seguinte, onde o capim é jovem. Os bezerros ficam a maior parte do tempo com as mães, para que possam mamar quando quiser. O terceiro pilar é a nutrição. 

Diariamente, durante cerca de 4 horas, os bezerros são separados das mães e levados à praça de alimentação, onde recebem alimento suplementar que inclui 18% de proteína bruta. “Se você tratar o nelore com uma boa ração, ele responde”, diz o fazendeiro. Segundo Rogério Rosalin, gerente da fazenda 3R, muita gente visita o local para entender o sistema e copiá-lo. “Mas não é simples assim”, diz. “Para que uma propriedade rural funcione como uma linha de produção é preciso gestão, roteiros de trabalhos e de serviços padronizados – mas a maioria ainda pena justamente na gestão.” 

Mercado paga ágio de até 60% pelo animal.
 Bezerro maior custa de R$ 1,4mil a R$ 1,6 mil, mas dá retorno mais rápido que o normal, que sai por cerca de R$ 1 mil. 

Por criar bezerrões, além de sentir uma nítida satisfação pessoal, o fazendeiro Rubens Catenacci tem ganhos financeiros indiscutíveis. Ele deixou de vender os animais pela cotação do mercado. Toda a produção é leiloada em três grandes pregões anuais, todos no Mato Grosso do Sul. Em abril, seus animais estão num leilão em Campo Grande. Em maio, em Camapuã considerada a capital nacional do bezerro de qualidade. Em junho, em Figueirão, onde está a sede de sua fazenda.

No leilão de abril, os bezerros foram arrematados por R$ 1,6 mil cada ágio de 60%, na média, em relação ao preço do Cepea, onde o animal é cotado a pouco mais de R$ 1 mil. No pregão de maio, o preço caiu para R$ 1,4 mil, mas ainda acima da média. “Um bezerro de qualidade pode ter um preço maior mas com o animal é muito bom isso significa que vai custar menos para quem comprar”, diz Catenacci. Segundo fazendeiro Rodrigo Albuquerque, analista de mercado na consultoria Beef Point, especializada em pecuária, o raciocínio faz todo o sentido quando se pensa como funciona a produção ao longo da cadeia da pecuária de corte. 

Benefícios em cadeia. Catenacci faz o que se chama de cria do animal. Cuida das vacas e de seus filhotes. Na sequência, ocorre a recria, em que os animais recém-desmamados são engordados na transição para a vida adulta. A fase final é a engorda, que deve levar o boi ao peso apropriado para o abate. Só neste último estágio se atinge o chamado boi gordo. “Tudo que acontece na vida pregressa do animal vai impactar a sua vida adulta”, diz Albuquerque, que atua na recria. “Um bezerro de alta qualidade pode até custar mais caro, mas depois terá mesmo um custo muito menor porque engorda mais rápido.”

Existem também benefícios para a indústria e para o consumidor final. Um bezerro mais forte será um boi mais gordo e pronto para o abate muito mais jovem. Terá mais carne e essa carne será mais macia.

Recentemente, o Minerva Foods viu na prática o valor dos avanços da pecuária para a indústria. No primeiro trimestre, por causa da seca, que reduziu a oferta de boi gordo, o Minerva abateu um número menor de animais do que no mesmo perío- do do ano passado. No entanto, como os bois são maiores, ano a ano, o volume de carne em 2014 permaneceu praticamente o mesmo de 2013. 

Algumas indústrias pagam prêmios por bois melhores. É o caso do Marfrig Beef que participa de programas voltados a incentivar a melhoria da produção de diferentes raças. Além do Nelore há os de fomento ao Angus e ao Hereford, com bônus por animais que alcancem determinadas características. “É uma forma de incentivar os produtores a buscar animais sempre melhores”, diz José Pedro Crespo, diretor de Confinamento da Marfrig Beef.


Fonte:Jornalestadao