Número de feridos chega a 17; apenas uma menina segue internada.
Polícia abriu 2 inquéritos para investigar rompimento de adutora da Cedae.
Enquanto a Defesa Civil vistoria casas e contabiliza prejuízos causados pela inundação após rompimento de uma adutora da Cedae em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, na manhã desta terça-feira (30), as famílias desalojadas e desabrigadas começaram a ser levadas para um hotel na região. O acidente causou a morte de Isabela Severo dos Santos, de 3 anos, e deixou 16 feridos — nove levados a hospitais e sete atendidos no local, segundo o Corpo de Bombeiros.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, dos 10 pacientes levados ao Hospital Estadual Rocha Faria apenas uma menina de 8 anos permanecia internada por volta das 17h. O estado de saúde dela era estável.
Até as 16h, 82 famílias haviam sido atendidas no cadastramento realizado pela Cedae e pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social na Escola Municipal Casimiro de Abreu. Os moradores podem escolher entre permanecer nas próprias casas, no caso dos imóveis não interditados, ou ir para o HotelOn, com custos pagos pela Cedae. A Light normalizou parte do fornecimento de energia na região, desligado após a inundação.
Inquéritos abertos
A Polícia Civil abriu dois inquéritos para investigar o rompimento da adutora. A Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) ficará responsável por apurar as causas do vazamento, enquanto a 35ª DP (Campo Grande) vai investigar o caso da morte e dos feridos. A perícia no local já foi realizada.
Até 16h30, nove famílias — entre 30 e 40 pessoas — haviam sido encaminhadas para o hotel, no centro de Campo Grande. Outras cinco também irão para o hotel. "Estamos aqui para ajudar neste momento difícil, e vamos acompanhar o que acontecerá nos pró." afirmou Devanir Corrêa, coordenador de Serviço Social em Campo Grande.
Uma das que vão para o hotel é Erenilde, moradora da rua Projetada A, muito atingida pela inundação. Ela conta que quase viu a filha Yasmin Victória, de apenas 5 meses, ter o mesmo destino de Isabela. Erenilde estava em casa desesperada e só salvou a filha porque insistiu que o cunhado, Wellington Felipe, levasse a criança para algum lugar seguro.
"Ele achou que fosse chuva", explica ela, aliviada pela filha estar viva e bem. "Não paro de pensar que poderia ter sido a minha filha", emocionou-se. Ela mesma quase foi levada pela enxurrada. "Foi difícil, cheguei a bater no portão de uma casa, mas ninguém atendia. Quando consegui ficar em pé, aí me salvei", relata.
A Cruz Vermelha, presente no local, pediu que parem as doações de roupas. Os materiais mais necessários são toalhas de banho, acessórios de higiene pessoal e roupas de cama.
A escola virou ponto de abrigo para as famílias que perderam suas casas. Por volta das 11h, cerca de cinco horas após o acidente, o governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes chegaram ao local. O rompimento ocorreu por volta das 6h na altura do número 4.500 da Estrada do Mendanha. Casas e carros ficaram destruídos com a força da água, lançada em um jato que alcançou 20 metros, de acordo com Marcos Djalma, tenente do Corpo de Bombeiros. Até o começo desta tarde, não havia informação do que provocou o rompimento da adutora.
Acordei ao escutar um barulho muito forte no telhado. Em seguida, as paredes começaram a se destruir. A gente estava no segundo andar e a força da água arrastou a gente para o outro lado da rua. Nós paramos em frente à casa do vizinho"
Agilson da Silva Serpa, mecânico
"Daremos total solidariedade e atenção às famílias. Eles viveram momentos de pânico, de terror. As equipes da secretaria estadual e da Prefeitura estão prontas para acolhê-los. Ninguém vai ficar sem residência. As pessoas desabrigadas serão hospedadas em hotéis da região por conta da Cedae. Os eletrodomésticos perdidos também serão pagos pela Cedae. A Secretaria de Desenvolvimento Social está pronta para dar apoio. Nenhuma perda material se compara a uma vida. Tudo será apurado pela Cedae e por peritos externos para saber a causa do acidente", disse Cabral.
Diversas residências foram alagadas, com a água chegando a 2 metros de altura em alguns pontos, de acordo com moradores. Muitas pessoas ficaram ilhadas. Segundo o secretário de Defesa Civil do município, Márcio Motta, pelo menos três quarteirões foram isolados.
Ao todo, segundo a Defesa Civil municipal, a inundação deixou 70 desalojados e 72 desabrigados. Dezessete casas desabaram. Segundo o Corpo de Bombeiros, cerca de 200 casas foram afetadas e 20 foram interditadas. Foram acionados 90 militares de quatro quartéis para o local.
'Acordamos com as paredes caindo'
"Estava dormindo e acordei ao escutar um barulho muito forte no telhado. Em seguida, as paredes começaram a se destruir. A gente estava no segundo andar e a força da água arrastou a gente para o outro lado da rua. Nós paramos em frente à casa do vizinho", disse o mecânico Agilson da Silva Serpa, que sofreu um ferimento no joelho.
A dona de casa Juliana Lemos conseguiu socorrer os quatro filhos. "Meus filhos estão bem, estavam todos dormindo. Acordamos com as paredes caindo. Eu só tive um ferimento no pé", afirmou ela, que foi atendida na ambulância do Corpo de Bombeiros.
Carros e ambulâncias dos quartéis de Campo Grande e Santa Cruz estão no local. Um bote salva-vidas ajuda no resgate de moradores. Equipes da Defesa Civil municipal e agentes da Polícia Militar também foram enviados.
Em entrevista à GloboNews, o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, disse que a corporação vai avaliar os danos causados pela água.
"Nosso trabalho tem sido para retirar pessoas de dentro de casa em razão da grande extensão do alagamento. Estamos trabalhando em conjunto com o Departamento de Engenharia da Defesa Civil da cidade para fazer as avaliações e as extensões dos danos causados nas casas que foram destruídas ou danificadas", explicou Simões.
Interdição e falta de luz
A Estrada do Mendanha foi interditada na altura da Rua Marcolino da Costa e o trânsito era desviado pela Estrada do Pedregoso. De acordo com a Light, empresa responsável pelo fornecimento de energia, após o rompimento da adutora a luz foi desligada por questões de segurança na região e normalizado parcialmente à tarde.
Técnicos da Cedae realizam manobras para evitar o desabastecimento na Zona Oeste e em outras regiões da cidade após o rompimento da adutora Henrique Novaes. No entanto, a concessionária faz um apelo para os moradores economizarem água.
O diretor de operações da Cedae, Jorge Briard, informou que a empresa vai ressarcir integralmente todos os moradores. Equipes de assistência social estão no local para realizar o cadastro dos desabrigados.
"A preocupação principal é o atendimento às pessoas. A Cedae já consegue redistribuir a água para outras adutoras para que não haja desabastecimento. O problema não é recorrente, não há estatística de vazamento de grande porte na adutora, isso foi um acidente pontual. Técnicos estão no local para recolher material e analisar o que provocou o rompimento", explicou Briard.
Interior de uma casa acumulou entulhos arrastados pela água (Foto: Jadson Marques/Estadão Conteúdo) |
Imagem mostra jato d'água formado com rompimento da adutora no Rio (Foto: Reprodução/TV Globo)
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Fonte: G1 Rio
Por: Henrique Coelho