Arquitetura da Calógeras começa a mudar, como demolição de 9 prédios - Jornal Correio MS

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30/03/2012

Arquitetura da Calógeras começa a mudar, como demolição de 9 prédios

Demolição ocorreu hoje de manhã. (Fotos: Marlon Ganassim)

Depois de décadas naquele cenário entre as ruas Antonio Maria Coelho e a Maracaju, nove prédios comerciais da Calógeras viraram entulho na manhã de hoje.

Os imóveis foram demolidos pela Prefeitura em trecho do centro antigo, para as obras da Orla Ferroviária, espaço para onde devem ser transferidos os “dogueiros” que ficavam na avenida Afonso Pena e hoje estão no prédio da antiga rodoviária. Uma mudança drástica na arquitetura daquele ponto da cidade.

Por 38 anos trabalhando em uma das sapatarias tradicionais da Calógeras, Iteler Silveira Leite fez a mudança no final da tarde de ontem para o outro lado da rua. Do prédio pequeno, agora alugado, ele passou o dia assistindo ao fim do comércio aberto por ele em 1974. “Minha história virou aquilo ali”, mostra as paredes quebradas, recolhidas pela pá-carregadeira.

Os nove imóveis foram derrubados em uma manhã. No início da tarde, Iteler ainda não tinha ideia do que fazer da vida. “Acho que vou ficar um tempo aqui, mas depois não sei. Participei das reuniões com a Prefeitura sobre a desapropriação, mas nunca aceitamos isso. A gente queria outro destino para isso aqui”, comenta.

Pela rua, também tentando entender como a Calógeras vai ficar, a ambulante Tereza Brites para e comenta. “Achava que tinham é de aproveitar esses predinhos. Pintar bem colorido e transformar em bar, lojinha de artesanato. Mas agora já era, né”.

A demolição ocorreu com autorização judicial. A Prefeitura, que move processo de desapropriação da área, depositou em juízo R$ 350 mil, para poder ter a posse, assegurada em decisão da Justiça.

Iteler teve de mudar para o outro lado da rua e observa o caminhão, ao fundo, recolher o entulho.

A Orla Ferroviária, já em execução, tem investimento previsto de R$ 3,9 milhões e é visto pela prefeitura como estratégia de valorização do espaço público e de transformação do trecho em pólo cultural da cidade, como propõe o Plano de Revitalização do Centro.

A demolição de hoje parou na loja do seu Waldemar, a casa de produtos para fazenda, criada há 50 anos. O filho, Odimar, diz estar tranquilo porque o imóvel “está completamente regularizado”. “A prefeitura vai só refazer a calçada e a gente vai ter de revitalizar a fachada para se adaptar ao projeto”, explica.

Na porta da loja, como faz há anos, Erotildes Andrade Vieira, conhecido como Abacaxi, dá “graças a Deus”. O comércio é o ponto de encontro dos amigos, conta o peão de 64 anos. “Sempre andei por comitiva por aí e na hora de voltar para casa é aqui que eu encontrava com os amigos. Agora diminuiu um pouco, mas ainda é aqui que eu encontro o povo para conversar”.

O projeto arquitetônico prevê cerca de 900 metros de novo uso do espaço do leito da ferrovia no trecho da Avenida Afonso Pena, a partir da Morada dos Baís, até a Avenida Mato Grosso com a construção de um calçadão com piso tátil, equipamentos de lazer e descanso, bancos, praça, área para atrações culturais, ciclovia, paisagismo e iluminação.

Para se tornar atrativo para a população, o local deverá contar com bibliotecas, cafés, lanchonetes, bares, floriculturas, lojas de artigos regionais e restaurantes, em prédios a serem levantados.

A calçada na orla terá mosaico português, pórticos, quiosques, bicicletário, painéis com a história das colônias, teatro de arena, playground e aparelhos de ginástica.
Erotildes dá "graças a deus" que demolição preservou loja do amigo.


Ângela Kempfer e Marta Ferreira
campograndenews